quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre o Aborto

Antes de mais, quero precisar que votei "Sim" no referendo sobre a despenalização do aborto. Porque acredito que o mesmo não constitiu (na maior parte das vezes), crime.
No entanto, desde que decobri que estou grávida, tenho vindo a sensibilizar-me cada vez mais para este assunto, e vejo o aborto de forma diferente do que via há uns anos atrás.
Devido à minha óbvia sensibilidade a este tema, confesso ser-me mais difícil aceitar quem opta pelo aborto. Tal como ainda me é mais difícil ainda aceitar quem, não tendo condições para ter filhos, os tenha às carradas.
Noutro dia, numa consulta, o meu obstetra comentou comigo que depois de me atender, iria fazer um aborto a uma miúda de 16 anos. 16 anos. E já com um aborto no registo.
Sei ainda de inúmeros casos de mulheres que abortaram uma, e outra, e outra vez. E tudo isto é comparticipado por nós. Independentemente de as pílulas e preservativos serem distribuídos gratuitamente nos centros de saúde, existem mulheres para quem o aborto é uma medida anti concepcional.
Revolta-me isto, sobretudo quando penso que uma mulher que quer fazer um aborto é mandada para casa 3 dias para pensar, e depois pode voltar à unidade de saúde e tratam do assunto no dia, mas uma mulher com problemas de fertilidade, pode esperar meses e anos por consultas e tratamentos.
Custa-me que seja mais fácil abortar do que engravidar pelo SNS.
Custa-me que muitas mulheres não percebam a dádiva da vida, a sorte que têm em ser férteis, a luta que não tiveram de travar. É claro que não sou minimamente a favor que se tenha as crianças porque sim, pelo contrário. Acho que um filho tem de ser uma decisão pensada e ponderada por ambos os membros do casal (ou uma decisão de uma mãe solteira, que entende reunir as condições para tal, recorrendo a um banco de esperma). Mas também acho que não podemos estar constantemente a comparticipar abortos recorrentes por parte das mesmas mulheres.

E custa-me, custa-me tanto que a merda da fertilidade seja completamente aleatória, que tão boa gente que quer engravidar não consiga, e depois uma estúpida qualquer consiga engravidar com o ar.
Custa-me, e se este mundo não é injusto, então não sei.

5 comentários:

Morango Azul disse...

E mais: fazem aborto voluntário e têm direito a 30 dias de baixa paga a 100%, o que na prática se traduz a um rendimento liquido superior ao salário.

Neuza disse...

Como eu percebo o que escreveste neste post. Tenho um casal de amigos que tenta à imenso tempo para engravidar e nada. Resta esperar que o nosso SNS dê ordem para começar os tratamentos...longa espera a deles e estas miúdas podem e têm ordem para abortar como dá cá aquela palha.. mundo e país injusto!!!

Imperatriz Sissi disse...

Sempre fui contra o aborto em si, mas a questão é que o referendo em causa era pela despenalização - à consciência de cada uma e partindo do princípio que nenhuma mulher o faz de ânimo leve- não pelo aborto grátis e ilimitado à conta dos contribuintes. Isto é simplesmente monstruoso.

Sofia disse...

Eu sou a favor da discriminalização do aborto mas não sou a favor da sua utilização como contraceptivo.

Qual a forma de prevenir que tal aconteça? Educar devidamente as crianças e adolescentes. E quando digo devidamente é mesmo promover a educação sexual com especialistas da matéria vocacionados para o ensino nas respectivas faixas etárias.
Não é com paninhos quentes que vamos lá.

Karina sem acento disse...

Eu fui sempre contra o aborto, tirando casos de violação, mal formação do feto ou em perigo de vida para a mãe. Mas cada um sabe de si e cada um terá as suas razões, não aponto o dedo a ninguém que já tenha optado por esta via...
No entanto, acho muito triste ao ponto que isto chegou em que usam o aborto não como último recurso mas sim como mais um contraceptivo. Para além de que nunca há dinheiro para nada mas para isto o Estado (nós todos) tem sempre. Eu continuo a defender a ideia de que o primeiro aborto seria, sim senhora, comparticipado totalmente pelo estado (azares, há sempre), mas os seguintes (já não é para mim mero azar mas sim um descuido dos grandes) seriam pagos na íntegra pelo "paciente". Continuaria a não haver penalização mas talvez desta maneira as pessoas pensassem duas vezes e tivessem outros cuidados - como ir, de antemão, ao centro de saúde buscar contraceptivos que, como tu dizes, são fornecidos gratuitamente.