terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A pobreza infantil em Portugal- Aviso: post polémico e nada consensual, podem começar a preparar os ovos e os tomates podres

Na semana passada, fiquei estarrecida quando foram conhecidas as estatísticas do INE sobre a pobreza infantil em Portugal. É assustador. 1/3 das crianças encontra-se em risco de pobreza. Fiquei estarrecida com esses números. Comecei a pensar como era possível. E depois percebi. Existem várias explicações, mas creio que uma das principais assenta na seguinte: se pensarmos bem, quem tem mais filhos, são dois grupos de pessoas, as abastadas e as muito pobres.
As remediadas, como eu, como o leitor e tantas outras, cada vez têm menos filhos. Conheço inúmeros casais que gostariam de ter filhos, ou de tentar o segundo ou mesmo o terceiro filho. Mas não o fazem. Ou porque as exigências profissionais assim não o permitem, ou porque consideram que não têm possibilidades financeiras para tal.
As pessoas que já estão em risco de pobreza, muitas vezes não têm pudor em ter mais filhos. Vejo isso bem nas consultas de obstetrícia. Tal situação vê-se ainda nos fóruns de maternidade, onde muita gente admite que "aproveita" o desemprego para ter filhos, enquanto outras já não têm pretensões de deixar de solicitar o RSI. Para exemplificar o que quero dizer, conto um episódio passado na última consulta que tive. Duas senhoras grávidas, uma grávida do 5º filho, e outra grávida do 4º, conversavam entre si, sobre a obrigatoriedade de se deslocarem ao centro de emprego para não perderem o RSI. A senhora com mais filhos, comentava que, apesar de desempregada e da mesma situação se verificar com o seu marido, ainda tinham vontade de ter mais um. Sim, o 6º.
E eu fiquei parva. Porque claro que cada pessoa deverá ter os filhos que desejar, mas não nos podemos esquecer que é necessário providenciar-lhes as mínimas condições para isso. Os filhos de ambas as senhoras, estavam mal arranjados, com roupas rotas e já bastante gastas, e sujinhos. Para mim, isso não é qualidade de vida, não é proporcionar o melhor aos filhos. Claro que não defendo que as crianças têm de andar todas em Gant. Mas há os mínimos. E aqueles, coitadinhos, nem isso.
E quem me garante também que não passam fome?
Eu acho que muitas destas pessoas não pensam. Não pensam que não têm condições para criar mais uma criança, não pensam nas necessidades individuais de cada uma, e na qualidade de vida que lhes deveriam proporcionar. Vejo destes casos aos montes. E isto aflige-me. Não podemos proibir ninguém de ter filhos (infelizmente...), mas podemos sensibilizar. Será que aquelas senhoras conseguem dar o acompanhamento devido a todos? Tomara que sim. Mas não acredito.
A pílula e outros métodos anti concepcionais, são gratuitos nos centros de saúde. Não há "desculpa" para várias gravidezes "indesejadas".
A crise prejudicou em muito a qualidade de vida das crianças, não tenho dúvidas. Mas também não tenho dúvidas que estas crianças, filhas de pais já na pobreza, nasceriam, independentemente da crise. E preocupa-me porque isto é um ciclo vicioso. E se muitas pessoas com menores rendimentos não pensam duas ou três vezes antes de ter mais filhos, os remediados, como eu, pensam mil. E muitas vezes não têm.
E eu penso que esta merda é toda muito injusta, porque nós não podemos ter mais filhos, mas andamos a descontar para que muitas destas pessoas tenham 4 e 5 filhos, onde não lhes podem proporcionar a qualidade de vida que merecem. E se isto não é injustiça, então não sei o que é.
E quanto mais penso nisto, mais penso que afinal o argumento do filme "The Tall Man" não é assim tão descabido...

3 comentários:

Karina sem acento disse...

Pois olha, concordo contigo a 100%! Eu nunca fui apologista do "ondem comem 2, comem 3". Ou há condições, ou então mais vale não ter filhos. Para quê? Para passarem dificuldades? Para passarem frio e fome? Para viverem das ajudas dos outros, como conheço um caso em que, felizmente não falta nada àquele miúdo mas porque os avós ajudam bastante. O pai não ganha nada de especial e ela estava desempregada quando engravidou. E mesmo assim engravidou.
O mais giro é que já fui praticamente insultada quando digo que não quero ter filhos - pelo menos num futuro próximo - que sou menos mulher por isso. Mas para mim menos mulher é quem põe um filho ao mundo sabendo que não tem condições para o criar.

GATA disse...

Não tenho filhos nem penso ter (mas isso é outra história), mas concordo contigo, especialmente com a parte dos pobres... que têm filhos por causa dos subsídios. E depois o que se vê são crianças aos caídos que, na maioria, serão adultos marginais.

Ah, e quando um(a) médico(a) fala em laqueação de trompas a essas parideiras (não são mãe nem nada!)... aiii... aparece a família toda e a coisa acaba com a intervenção da polícia!

AvoGi disse...

Ia dizer calquer coisa mas perdi-me pelos comentarios
Kis:=)