sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A malta dos colégios

Em toda a minha vida andei em instituições de ensino públicas. A minha família nunca teve possibilidades financeiras para ser diferente (e mesmo nessas, enfim, foi o que se pôde fazer...). E, acreditem, andei numa escola que é das piores do distrito do Porto. Ambiente de cortar à faca e gente de meter medo ao susto. Claro que não recomendo, nem nunca permitiria que os meus filhos andassem em semelhante instituição, mas adiante.
Isto, para dizer que, tirando esses anos infelizes, eu sou acérrima defensora do ensino público. Continuo a acreditar que é o que melhor prepara os alunos para a universidade e, consequentemente, para a entrada no mundo do trabalho. Mesmo o ensino vocacional, tenho conhecimento ser de grande qualidade.
Desta forma, se a situação se mantiver relativamente estável face à qualidade do ensino, afirmo com toda a convicção que os meus filhos irão frequentar escolas públicas.
Por isso, uma cena que eu não percebo é a malta dos colégios. Sobretudo gente que passa dificuldades, que anda a contar tostões para ter os filhos em colégios, quando existem, perto da residência dessas pessoas, escolhas públicas de qualidade. Para mim, esses casos são ainda mais flagrantes do que os casos das pessoas ricas que metem os filhos nos colégios só porque sim, ou para eles não se misturarem com o povo. E não, não me venham falar de horários, porque há alternativas a isso. Podem falar-me em ensino artístico e actividades extra curriculares, que já acredito mais um bocadinho.
Ora, dizia eu que não percebo a mentalidade das pessoas remediadas que colocam os filhos em colégios. Para além de não poderem canalizar esse dinheiro para outras coisas porventura mais úteis, a verdade é que esses miúdos serão sempre vistos como "pobres". Tenho conhecimento de n casos de miúdos mais humildes que andaram em colégios e eram constantemente postos de parte por não pertencerem "aquele mundo".
Outra coisa que me aborrece relativamente à malta dos colégios privados, é que, regra geral, estas pessoas vivem numa bolha. Não conhecem o mundo como ele é, a realidade da maior parte das pessoas e as dificuldades que são sentidas por muitos.
Em virtude da ascensão social que tanto tenho batalhado para conseguir, acabei por seguir uma profissão onde a malta dos colégios abunda. E através do contacto diário com as mesmas, percebo o quão alheadas de tudo elas sempre viveram. Noutro dia, um fulaninho, beto que só ele, ficou completamente chocado ao perceber que a maior parte das escolas públicas não tem... Piscina. Deveriam ver a cara de espanto e horror do rapaz, enquanto eu pensava que existem ainda crianças que têm aulas em contentores, e em salas completamente desadequadas onde no Inverno se torna impossível estar, quanto mais estar com atenção, e ele falava-me do horror que é não haver piscinas. Claro que é chato amigo, mas há mais, muito mais.
E esse pessoal simplesmente não tem noção. Grande parte das pessoas que vêm de colégios e são abastadas, não têm nenhuma, nenhuma noção da realidade deste país. E custa-me um bocado engolir isto, aperceber-me que muita gente da minha geração está completamente por fora do que realmente se passa na sociedade.

Independentemente das minhas possibilidades financeiras futuras, irei querer dar sempre o melhor aos meus filhos, em tudo o que eu puder. Mas irei igualmente educá-los para saírem da sua bolha, para perceberem que há mais mundo do que aquele que eles conhecem. E quem sabe, se me sair o Euromilhões, fazer-lhes perceber que há mais vida para além de BMW'S e piscinas.

4 comentários:

Karina sem acento disse...

Eu andei num colégio - num bom colégio, não naqueles PPP's (paga, propina, passa), em que só passavam de ano por puro mérito e aqueles que não sabiam a matéria, ficavam retidos no mesmo ano). E não tinha piscina :P Mas quando entrei no ensino secundário, quis mudar para uma escola pública - o colégio onde andava era só betinhos e eu queria mudar de ambiente. Apesar da escola pública onde andei ser bastante boa, tenho de te dizer que notei muita diferença em termos académicos: eu fui para o décimo ano muito melhor preparada que qualquer outro colega que vinha do público e só eu é que acabei por entrar numa faculdade pública (aí sim, sou acérrima defensora do ensino público), e que pedia uma média quase tão alta quanto a de medicina.
Nem todos os que andam em colégios são betinhos, nem todos os colégios são bons, nem todas as escolas públicas são más. E olha que tive colegas na secundária tão ou mais betos que no colégio :P

cinquentinha disse...

Subscrevo inteiramente, também andei em escolas públicas e penso exactamente da mesma forma!

Morango Azul disse...

Pois eu faço intenção de o colocar no colégio particular até, pelo menos, à quarta classe. Depois logo se vê.

Blog da Maggie disse...

pois eu tive uma experiência muito idêntica á da Karina ;)

Bjos

Maggie