sexta-feira, 4 de julho de 2014

Um pouco de Economia- Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo e o dia a dia numa micro empresa

A Economia revê-se em todos os aspectos das nossas vidas. Aliás, há uma frase em latim bem popular entre os economistas que diz qualquer coisa como "onde há o Homem, há Economia". Verdade.
David Ricardo foi um famoso economista inglês do século XIX que aperfeiçoou a Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith. Este último afirmava que, em comércio internacional, os países se devem especializar nos produtos que conseguem produzir a um custo mais baixo. David Ricardo melhorou a teoria, e afirma que ainda que um país produza produtos a um preço mais baixo que os outros países, deverá concentrar-se na produção do produto em que é mais eficiente, vendendo os seus excedentes aos outros países, em virtude de um conceito chamado custo de oportunidade. Isto, de forma muito simplificada.
E o que é o custo de oportunidade, perguntam vocês e bem? De forma igualmente simplificada, o custo de oportunidade é o custo associado a uma actividade que optamos por não realizar em detrimento de outra. Este conceito é particularmente importante para as decisões que tomamos no dia a dia (e por isso se interliga com a teoria de David Ricardo, de forma a clarificar o meu ponto de vista). Exemplo: O custo de ir ao cinema em vez de trabalhar será o custo do meu salário/ hora multiplicado pelo tempo de que necessito para ir ao cinema.

Como podemos facilmente extrapolar, os indivíduos, como os países, devem especializar-se nas tarefas em que são mais eficientes. Ou seja, naquelas em que têm vantagem comparativa. Exemplo: o meu custo de estar 2 horas a passar camisas em horário laboral, é precisamente o meu salário/hora X 2. Se o meu custo para passar camisas for, suponhamos, de 40€, e o de outra pessoa for de 15€, deverei contratar a outra pessoa. Ou seja, 15€ é o valor que a outra pessoa atribui à tarefa que não irá realizar para poder passar as camisas.
Estão a seguir até aqui? Obrigada por terem lido tudo até ao momento.

Então o que se passa é o seguinte: eu trabalho numa micro-empresa. Não existem muitos recursos disponíveis, e acabo por ter de realizar tarefas que vão bem além da minha especialização. No entanto, para algumas tarefas esse custo é baixo. Noutras, nem tanto.
Os principais problemas dos patrões portugueses são precisamente os principais problemas do meu: não fazer planeamento, vivendo apenas o dia-a-dia, e não utilizar os seus recursos da forma mais eficiente possível (que no fundo acaba sempre por colidir com o problema do planeamento, e por isso, acredito eu, é que ele me contratou a mim). O meu patrão decidiu que eu ontem deveria despender a minha tarde a passar roupa, em virtude de uma sessão fotográfica a ser realizada hoje. Ele sabia da sessão fotográfica há muito tempo, e por isso contratou fotógrafo e espaço. Mas não achou que deveria contratar alguém para realizar essa tarefa, porque assumiu automaticamente que seria eu a realiza-la (claro que eu não sabia, senão eu própria teria contratado alguém). Eu tenho isenção de horário de trabalho, e portanto ontem, saí às 21h porque estive 6h a passar roupa. Acontece que o meu patrão vê esta situação como uma poupança de, por exemplo, 20€. Quando na verdade, acabou por ter prejuízo. Na verdade é que o meu patrão designou uma pessoa para essa função (eu), cujo custo hora é superior a outra pessoa cuja especialização seja precisamente essa (a de passar a ferro). Adicionando também a vantagem absoluta que a outra pessoa especializada teria sobre mim, que certamente demoraria menos tempo que eu a realizar a tarefa proposta. Assim, em vez de uma poupança de 20€ (por exemplo), temos que o que verdadeiramente aconteceu foi que eu despendi 6 horas de trabalho a um custo muito superior do que outra pessoa que provavelmente teria despendido 4 horas a 20€ (a título de exemplo de um ganho de 5€/hora).

Adicionemos ainda o factor psicológico de o trabalhador (eu) estar a realizar uma tarefa para o qual não está especializado, em detrimento da tarefa para a qual tem efectivamente especialização. O trabalhador sente-se desmoralizado e desvalorizado. E pensa que saiu às 21h para nada, tendo ficado o seu trabalho (esse sim, da sua competência) atrasado.
É mais ou menos como comprar um mini tendo em vista a função de transporte de mercadorias. Ninguém faz isso pois não? Então porque motivo alguém contrata uma economista, e lhe pede para que volta e meia passe a ferro?

5 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Olhem que essa! Já me calharam tarefas bem estranhas - desde carregar expositores a montar pop ups porque tudo isso faz parte da comunicação - mas isso é novidade. Como é que ele sabia que não eras péssima dona de casa? É ter muita fé!

Anónimo disse...

Gosto muito destes teus textos acerca do teu novo emprego, desta nova e diferente fase numa micro empresa. Gosto, porque também eu passo por isso, mesmo que numa área diferente. Sou engenheira e faço de tudo! E a mentalidade do patrão é mesmo essa, a ideia que poupou! Quando na verdade não faço o meu trabalho, que vai ficando cada vez mais atrasado.
Enfim... Talvez mostre este texto ao meu patrão! :)
Obrigada!

Morango Azul disse...

Oh pá é mesmo à português.

Anónimo disse...

Na próxima dizes que não sabes passar roupa. Na tua casa a roupa é toda dobrada para o bem do ambiente.
Grande lata, a do teu patrão!

Ana L.

S* disse...

Se um trabalhador se sente desvalorizado, esforça-se menos, dedica-se menos. :/