quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

As drogas

O álcool e o tabaco são drogas legais. Já experimentei ambas, sendo que no que respeita ao tabaco, bastou-me uma primeira experiência para odiar, e álcool, acabo por beber apenas socialmente e em ocasiões festivas.
Não sou uma pessoa de vícios. E é isso mesmo que as drogas transportam, os vícios.
No entanto, e apesar de nunca ter experimentado drogas como "ganza", cocaína, heroína, extasy, sei sobre elas provavelmente mais dos que as consomem regularmente.
Sei todos os efeitos que provocam e, mais importante, sei o que fazem a uma pessoa, a uma família.
Os meus anos de infância foram bastante amargos. Entre as diversas experiências negativas que conto a nível parental, cresci também com um familiar que teve problemas com drogas.
E aí, nesses tenros anos e depois nos outros menos tenros e inocentes, vi de tudo. Vi os procedimentos para a utilização das diversas drogas, vi o efeito das mesmas a curto e a longo prazo.
Vi a droga espalhada pelo quarto. Vi a pessoa num estado de transe.
Assisti aos roubos do pouco que já tínhamos. A aliança do meu falecido avô. O anel de noivado da minha avó. O colar de pérolas da minha madrinha. Os pratos antigos. A aparelhagem, televisão e outros electrodomésticos.
Os rios de dinheiro que se gastaram em tratamentos, dinheiro que não tínhamos, dinheiro pago com juros gigantes e sacrifícios pessoais inimagináveis (a minha avó chegou a ter 3 empregos).
Tudo se foi.
Ficaram os dedos, diz a minha avó.
Mas ficaram também outras marcas. Coisas que não se esquecem. Os sentimentos de medo, preocupação, incredulidade. Isso não desaparece. As imagens também não desaparecem.
Hoje, essa pessoa, apesar de livre dos vícios das drogas (pelo menos é isso em que acreditamos), não é uma pessoa equilibrada e totalmente livre de outros vícios.
Eu acredito que quem passa por uma experiência limite como foi o caso, passa precisamente por ela porque já denota um desequilíbrio psicológico. Afinal os vícios servirão para suprimir essas lacunas.
O que eu vos posso dizer, apesar de nunca ter experimentado drogas ilegais, é que sempre soube que nunca iria sequer experimentar.
O grupo experimenta? Vamos ficar de fora se não experimentarmos também? Paciência. Eu sei que há pessoas que não têm a capacidade de dizer que não. De não seguir o rebanho.
Mas nunca "é só uma vez". Não conheço caso algum em que isso tenha acontecido.

Tive um amigo cuja inteligência espantava qualquer um. Hoje, ele trabalha num restaurante de fast-food. Aquele rapaz poderia ter sido o que quisesse, a sua inteligência permitia-o. Com 18 anos desistiu da faculdade por causa das drogas. Ele tinha muito dinheiro, pelo que o tombo foi ainda mais fundo. Ele experimentou tudo o que havia para experimentar.
Hoje, com 30 anos, ele não tem capacidade de raciocínio que o permita ter aspirações profissionais que condiziam com a sua inteligência de outros tempos.
Portanto não, eu nunca experimentei nem nunca o irei fazer, e irei lutar sempre para que os meus futuros filhos não o façam.

Fui chamada de tudo quando recusava "uma passa". Não há problema. Com essas injúrias podia eu bem. Porque afinal, eles não viam o poço que se escondia debaixo da relva cintilante. Mas eu já lhe tinha visto o fundo.

1 comentário:

cinquentinha disse...

Em primeiro lugar Parabéns pela coragem de conseguires descrever tão 'bem' todas as lembranças que tens desses episódios, são poucas as pessoas que passam por situações destas e conseguem falar no assunto, tão abertamente, mesmo através de um blog.

Também nunca experimentei drogas ilegais, apesar de vários convites que tive, sempre recusei e irei recusar. Também convive, durante cerca de três anos, durante o curso profissional, com miúdos de 17 anos, que desgraçaram a vida deles por causa dessa porcaria, pessoas que, influenciadas começaram e experimentar, e no fim dos três anos de curso estavam numa lástima, e ainda por cima orgulhosos disso!! Uma vergonha! Mas infelizmente esta é a realidade dos jovens actualmente, parece que só pensam nisso!!