quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

De como quase todos os conflitos se resolvem na base da ameaça

A larga maioria das pessoas funciona por estímulos. Poucas são aquelas que, não tendo nenhum incentivo a fazer alguma coisa, o fazem (não estou apenas a falar da realização de tarefas burocráticas, falo de tudo, mesmo para fazer voluntariado, por exemplo, o estímulo é ajudar os outros). Ora, eu tenho um "talento natural", algo que nasceu comigo e vai morrer comigo. Chama-se mau feitio. Acredito ser boa pessoa, mas tenho um feitio lixado. Vá-se lá entender que eu, quando pago por uma coisa, espero que a mesma venha em condições. Vá-lse lá entender que eu goste de ser atendida a tempo e com cortesia. Não se percebe.
A verdade é que quando necessito de resolver conflitos, normalmente utilizo como arma de arremesso a ameaça. A meu ver, é o método que me permite obter resultados mais rápidos e eficientes.
Eu exemplifico:
Aí há uns tempos comprámos um aparador para a sala. Lindo, mandámos entregar e, claro, pagámos mais um X pela entrega e montagem do mesmo. Chegado o dito, o mesmo apresentava-se deteriorado. Disseram-nos que naquele momento tinham de deixar lá o aparador, mas que durante aquela semana, iríamos ser contactados para procederem à substituição. A semana passou e nada. Como não estava a trabalhar no Porto, liguei para a loja vezes e vezes sem conta e sem sucesso, uma vez que o telefone tocava e ninguém do outro lado atendia. Dois dias nisto, de chamadas sem resposta quase ininterruptamente.
Chateada, desloquei-me ao estabelecimento comercial no fim-de-semana, que por sinal até fica longe da minha morada, de modo a conseguir resolver o problema, porque eu estava mesmo a ver que a ideia deles era ver se o cliente se "esquecia" e aquilo passava.
Ora, em sendo atendida e após ter exposto a situação, só me arranjavam desculpas, que a loja não tinha culpa por isto, que não tinha culpa por aquilo, que não sei quê e não sei que mais. Eles não podiam fazer nada, etc etc e que nos iriam contactar um mês depois (UM MÊS) para proceder à troca. Eu, sem tempo para perder em discussões de culpa inúteis e querendo ver resolvido o problema, só digo que exijo que me resolvam o problema de forma imediata, caso contrário desejava a devolução do dinheiro e o livro de reclamações. Ai que não pode ser, não pode ser. Mantenho-me firme e repito as minhas intenções.
No dia seguinte estava o móvel substituído.
A base da ameaça. O devolver o dinheiro e escrever no livro de reclamações. Ameaças. Se dissesse que sim senhor, estava até hoje à espera que me trocassem o móvel, e com sorte nem nunca mais me iriam dizer alguma coisa.
Outro bom exemplo é o das operadoras de televisão e internet. Há uns meses atrás, expirava o nosso contrato de fidelização e eu, claro, procurei de imediato renegociar o mesmo. Tanto insisti e tanto ameacei que iria mudar de operadora, que actualmente temos um preço bem abaixo do valor de mercado para os serviços de que usufruímos. Mais uma vez, a ameaça de perder um cliente.

As pessoas e as empresas necessitam de incentivos poderosos para que as coisas se resolvam. Infelizmente, vejo que em muitos casos, os serviços no nosso país funcionam à base da ameaça. Temos é de perceber isso e saber lidar com isso. Claro que não gosto de perder tempo no meu fim-de-semana e ir para uma loja ameaçar que escrevo uma reclamação. Mas o que interessa é que o problema ficou resolvido.
Eu não procuro conflitos, mas também não tenho medo deles.

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