quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Das candidaturas ao ensino superior

Há dez anos (sim, DEZ), era eu que esperava ansiosamente na fila da minha nova faculdade para nela me inscrever, sem saber exactamente o que esperar. Tinha a certeza que tinha escolhido o curso certo. Hoje, não tenho essa certeza. A verdade é que aos 15 anos, a maior parte de nós não tem a maturidade/discernimento para escolher uma área de estudos que irá condicionar toda a sua vida dali em diante. Penso que as cadeiras fundamentais, aquelas que dão para tudo, deveriam manter-se, e depois o aluno ia adicionando cadeiras ao seu percurso escolar, conforme a área que o motivasse mais. Bem, mas isso são outros quinhentos.

Para além do já referido facto de o número de concorrentes à casa dos segredos ultrapassar o número de candidatos ao ensino superior (o que me deixa consternada), o que também não consigo compreender é a manutenção de um sem número absurdo de vagas para cursos que não demonstram níveis elevados de empregabilidade a médio e longo prazo. Conheci há dias duas raparigas que entraram em duas faculdades distintas aqui do Porto, duas privadecas, para cursos que, a meu ver, não lhes irão trazer grandes benefícios futuros, ou emprego na área. Está certo que muitos cursos não garantem qualquer emprego na área. Mas a meu ver, as faculdades privadas não deveriam poder abrir cursos que já existem com excesso de vagas no público. E depois os pais, os pais dessas meninas deixaram-me com a perfeita imagem da falta de exigência que muitas vezes abunda na geração a que as mesmas pertencem, pois diziam os pais que elas bem tentaram entrar na faculdade pública, mas a média era muito alta e por isso não conseguiram, coitadinhas, vão para a privada. Perguntei pela média (cuja prova de acesso, refira-se, é português), e recebi a resposta de que era de 14, coisa nunca antes vista, o ano passado era de 13, este ano subiu muito etc etc. Ora... as meninas em questão tinham médias de 11 e 12! Ou seja, a menos que a média descesse abruptamente, nunca iriam entrar na faculdade pública. 14 minha gente! Aquelas famílias acreditam que 14 é uma média alta! Poupem-me!
É isto, é a cultura da fraca exigência, do estudar para passar. Lembro-me que na minha turma, a média mais baixa pertencia a uma rapariga que terminou o secundário com 13, e conseguiu entrar na área de estudos que pretendia, na faculdade pública. O curso a que ela se candidatou era consecutivamente marcado por notas de entrada a rondar os 11 valores. Ela não precisava de mais. Claro que algo poderia ter corrido mal, mas felizmente para ela, não. Agora, saber que se precisa de, no mínimo 13, e se tem médias de 11 e 12, parece-me absurdo e denota uma fraca cultura de exigência, de querer ser e fazer melhor. E porquê? Porque estes meninos têm sempre as faculdades privadecas para onde podem entrar com médias deploráveis, e com exames de acesso de nota negativa.
Esta cultura do estudar para passar, do escolher um curso porque é "giro" (como uma delas disse), da total falta de exigência, dá comigo em doida.
Nem todos podemos e devemos ser doutores. Mas todos podemos e devemos aplicar-nos naquilo que escolhemos como profissão, e naquilo que verdadeiramente gostamos de fazer.
Mesmo nesses casos, o que vejo por aí é muita complacência, desleixo.

9 comentários:

cinquentinha disse...

E actualmente o que a maior parte do miúdos quer é, apenas e só, ir para a universidade, sai de casa dos pais, ir para uma nova cidade, e tem que ser aquela, que é onde a noite 'acontece', independentemente do curso, se não é num é noutro desde que se saia de casa e vá apara outra cidade!

Anónimo disse...

Comparar n.º de candidaturas ao ensino superior com o n.º de candidaturas ao ensino superior é comparar alhos com bugalhos!

Não entres nessas comparações facebookianas pf :)

t disse...

e depois da faculdade? vão arrastar anos de faculdade e finalmente terminá-la. e que profissionais serão? como podemos ter profissionais de excelência se foram medíocres a vida toda? não entendo...
***

Anónimo disse...

Gosto tanto deste blog e hoje decepcionou-me. Que desprezo ao falar nas privadas.. estudo numa e a minha nota de candidatura foi 165, superior à média de milhares que estão no público. Privado não é sinónimo de mau!

Anónimo disse...

Comparar n.º de candidaturas ao ensino superior com o n.º de candidaturas à Casa dos Segredos é comparar alhos com bugalhos!

Não entres nessas comparações facebookianas pf :)

Portuguesinha disse...

Oh, há tanta coisa ERRADA com as instituições de aprendizagem! Eu entrei na pública, soube de muitas privadas em que se aceitava qualquer coisa, desde que essa coisa estivesse disposta a pagar. Tive colegas, demasiados para o meu gosto, cujo objectivo de frequentar a faculdade era apenas consquistar o título de licenciado. Vi passar com boas notas pessoas que não aprendiam nada. Que nem sabiam o que fazer com o curso. Copiavam e enganavam bem, doutores que eram da "universidade da vida", que lhes deu muita LÁBIA.

Senti tanta aversão a isso de se ter "boas notas" sem aprender, que nunca fiz para as ter. O importante não eram os valores que me iam ser atribuídos, mas eu sentir que compreendia e aprendia as coisas. Mas o mundo rege-se por valores. Agora vou regressar à universidade para frequentar uma pós-graduação. Tenho algumas dúvidas a me atormentar a cabeça e ocorre-me que o pior que me pode acontecer é estar tão «esquecida» das coisas que os outros possam me olhar como se eu fosse um "desses" que nunca fui: um aluno que só quer é passar por passar, ir para as noites e farras, copiar nos testes e meter outro no meu lugar. Tudo o que não fui e o que me recusei a compactuar.

Ao mesmo tempo me interrogo se esta pós-graduação é útil e de valor. Se a Universidade não vai acabar por me desiludir no sentido de vir a constatar que não passa de outro curso que "Promete" mundos e fundos, cobra uma mensalidade de propina exorbitante e depois não se sai de lá com uma mais valia formativa.

Portuguesinha disse...

Oh, há tanta coisa ERRADA com as instituições de aprendizagem! Eu entrei na pública, soube de muitas privadas em que se aceitava qualquer coisa, desde que essa coisa estivesse disposta a pagar. Tive colegas, demasiados para o meu gosto, cujo objectivo de frequentar a faculdade era apenas consquistar o título de licenciado. Vi passar com boas notas pessoas que não aprendiam nada. Que nem sabiam o que fazer com o curso. Copiavam e enganavam bem, doutores que eram da "universidade da vida", que lhes deu muita LÁBIA.

Senti tanta aversão a isso de se ter "boas notas" sem aprender, que nunca fiz para as ter. O importante não eram os valores que me iam ser atribuídos, mas eu sentir que compreendia e aprendia as coisas. Mas o mundo rege-se por valores. Agora vou regressar à universidade para frequentar uma pós-graduação. Tenho algumas dúvidas a me atormentar a cabeça e ocorre-me que o pior que me pode acontecer é estar tão «esquecida» das coisas que os outros possam me olhar como se eu fosse um "desses" que nunca fui: um aluno que só quer é passar por passar, ir para as noites e farras, copiar nos testes e meter outro no meu lugar. Tudo o que não fui e o que me recusei a compactuar.

Ao mesmo tempo me interrogo se esta pós-graduação é útil e de valor. Se a Universidade não vai acabar por me desiludir no sentido de vir a constatar que não passa de outro curso que "Promete" mundos e fundos, cobra uma mensalidade de propina exorbitante e depois não se sai de lá com uma mais valia formativa.

Portuguesinha disse...

Oh, há tanta coisa ERRADA com as instituições de aprendizagem! Eu entrei na pública, soube de muitas privadas em que se aceitava qualquer coisa, desde que essa coisa estivesse disposta a pagar. Tive colegas, demasiados para o meu gosto, cujo objectivo de frequentar a faculdade era apenas consquistar o título de licenciado. Vi passar com boas notas pessoas que não aprendiam nada. Que nem sabiam o que fazer com o curso. Copiavam e enganavam bem, doutores que eram da "universidade da vida", que lhes deu muita LÁBIA.

Senti tanta aversão a isso de se ter "boas notas" sem aprender, que nunca fiz para as ter. O importante não eram os valores que me iam ser atribuídos, mas eu sentir que compreendia e aprendia as coisas. Mas o mundo rege-se por valores. Agora vou regressar à universidade para frequentar uma pós-graduação. Tenho algumas dúvidas a me atormentar a cabeça e ocorre-me que o pior que me pode acontecer é estar tão «esquecida» das coisas que os outros possam me olhar como se eu fosse um "desses" que nunca fui: um aluno que só quer é passar por passar, ir para as noites e farras, copiar nos testes e meter outro no meu lugar. Tudo o que não fui e o que me recusei a compactuar.

Ao mesmo tempo me interrogo se esta pós-graduação é útil e de valor. Se a Universidade não vai acabar por me desiludir no sentido de vir a constatar que não passa de outro curso que "Promete" mundos e fundos, cobra uma mensalidade de propina exorbitante e depois não se sai de lá com uma mais valia formativa.

Portuguesinha disse...

Oh, há tanta coisa ERRADA com as instituições de aprendizagem! Eu entrei na pública, soube de muitas privadas em que se aceitava qualquer coisa, desde que essa coisa estivesse disposta a pagar. Tive colegas, demasiados para o meu gosto, cujo objectivo de frequentar a faculdade era apenas consquistar o título de licenciado. Vi passar com boas notas pessoas que não aprendiam nada. Que nem sabiam o que fazer com o curso. Copiavam e enganavam bem, doutores que eram da "universidade da vida", que lhes deu muita LÁBIA.

Senti tanta aversão a isso de se ter "boas notas" sem aprender, que nunca fiz para as ter. O importante não eram os valores que me iam ser atribuídos, mas eu sentir que compreendia e aprendia as coisas. Mas o mundo rege-se por valores. Agora vou regressar à universidade para frequentar uma pós-graduação. Tenho algumas dúvidas a me atormentar a cabeça e ocorre-me que o pior que me pode acontecer é estar tão «esquecida» das coisas que os outros possam me olhar como se eu fosse um "desses" que nunca fui: um aluno que só quer é passar por passar, ir para as noites e farras, copiar nos testes e meter outro no meu lugar. Tudo o que não fui e o que me recusei a compactuar.

Ao mesmo tempo me interrogo se esta pós-graduação é útil e de valor. Se a Universidade não vai acabar por me desiludir no sentido de vir a constatar que não passa de outro curso que "Promete" mundos e fundos, cobra uma mensalidade de propina exorbitante e depois não se sai de lá com uma mais valia formativa.