quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os pobres de sempre e os novos pobres

Infelizmente, desde o início dos tempos, existem pobres nas sociedades. Actualmente, a pobreza está a aumentar e as desigualdades sociais também. Após ter lido este excelente artigo, dei por mim a recordar um pouco da minha vivência pessoal, das noites em que só havia sopa para o jantar, de nos cortarem a luz por falta de pagamento e eu ter de fazer os trabalhos de casa à luz de uma vela. De matar ratos antes que eles nos entrassem na cama e nos mordessem. Lembro-me como se fosse hoje. Mas as coisas poderiam ter mudado para melhor. Para algumas pessoas não mudaram. A pobreza não se faz apenas da falta de recursos, mas muito também da pobreza de espírito e valores. Não quero criticar ninguém, mas quando o artigo começa com o caso de uma família que não tem condições mínimas de habitação e alimentação, e cuja mãe, de 25 anos já tem a seu cargo 3 crianças, pergunto-me se realmente essas crianças vieram ao mundo para serem felizes. Caramba, há 20 anos atrás não havia o mesmo acompanhamento que há hoje. Hoje existem pílulas gratuitas nos centros de saúde e outros métodos anti concepcionais. Em último recurso, o aborto é legal. O que eu quero dizer é que provavelmente estas pessoas poderiam ter pensado um pouco mais antes de terem posto estas crianças no mundo. Não estou a dizer que os pobres não podem ter filhos, nada disso. Estou a dizer é que têm de existir condições mínimas para a vida de uma criança, algo que não acontece em muitos dos casos relatados nesta reportagem. Porque pobreza gera pobreza. Quando a crise de valores é de tal forma gritante, não há muita escapatória possível ao círculo. As crianças crescem em bairros, ao Deus dará, com os exemplos que têm em casa. Eu cresci assim, mas desviei-me de caminhos negativos. Mas a maior parte dos miúdos do meu bairro e colegas de escola não. As histórias aqui reportadas poderiam ser deles. Minhas. E não há nada que possa valer quando as condições de vida são de tal forma adversas. O incentivo à ascensão social, ao contrário do que acontecia por exemplo há 30 anos, é actualmente nulo. São precisas boas notas para entrar numa boa faculdade. E isso só se consegue com incentivos de estudo, com um ambiente propício ao mesmo, estímulos vários nesse sentido. E mesmo assim, hoje, ter um curso superior sólido, não é sinónimo de um emprego.
Muitas pessoas, por desconhecimento ou pouco interesse, não procuram melhorar as condições de vida em que se encontram. Como a própria reportagem refere, estas famílias não terão muitas vezes dinheiro para alimentar os filhos, mas têm dinheiro para pagar a mensalidade da Meo ou para o alcóol.
Isto, não se resolve com recursos financeiros. Resolve-se com mudança de valores, princípios, educação.

O que eu considero ainda mais assustador neste momento, são as pessoas que estavam do outro lado da barricada. Pessoas com estudos, cultura, com uma casa e condições de vida razoáveis, que estão a perder tudo fruto da crise e do desemprego que mina o nosso país. Pessoas como eu, como vocês. Que um dia se viram sem a única fonte de rendimento. Estava mesmo há pouco a pensar que recebi há 2 dias e já não tenho dinheiro na conta. É verdade. Pagas as contas e tendo posto gasolina no carro, não sobra nada. Absolutamente nada. É complicado, eu sei. E se acontece alguma coisa? Preferimos não pensar nisso e levamos a vida da melhor forma possível, poupando todos os tostões que vamos conseguindo amealhar, para juntar para o casamento. Após isso, faremos o mesmo para juntar para um pé de meia. Mas e se perdemos o emprego? Aí perdemos tudo. É dessas pessoas que falo. Casos que conheço de casais estabelecidos que tiveram de voltar para casa dos pais. Ou famílias com 2 filhos que tiveram de se mudar para um T1. É desses que falo. Que perderam a pouca qualidade de vida que ainda tinham. Que perderam privilégios. Os novos pobres.
Hoje são eles. E amanhã? Não sei. Mas é assustador.

2 comentários:

Karina sem acento disse...

É realmente assustador. Eu já contei que tinha uma colega na faculdade que se queixava que precisava de comprar um par de calças e não havia dinheiro em casa, mas tinham internet da mais rápida e televisão por cabo com todos os canais e mais alguns. É uma questão de prioridades. Da mesma forma que não compreendo como é que há pessoas que não têm quase comida para si próprias mas têm uma data de filhos - eu acho isto de uma inconsciência brutal, principalmente nos dias de hoje. Não é só a crise de dinheiro, mas também a crise de valores que reina o mundo.

Morango Azul disse...

Pois eu vou mais longe e digo mesmo que esses pobres de espírito deviam ser proibidos de ter filhos.