segunda-feira, 6 de abril de 2015

Defeito e feitio

Dou explicações há muitos anos. Já dei aulas numa escola pública (apenas um ano lectivo, com pena minha, porque gosto genuinamente da profissão), e já dei explicações a miúdos e graúdos, dos vários níveis de escolaridade, incluindo cadeiras de faculdade.
Diz quem me conhece que sou exigente. É verdade, sou sim. E muito. É defeito e feitio.
Por isso não percebo quando muitos paizinhos têm uma atitude de condescendência para com os filhos. Quando os miúdos pura e simplesmente não dão mais... Ainda vá que não vá.
Mas quando facilmente se vê que existe muita preguiça, muita falta de atenção, muita falta de trabalho... Já me faz mais confusão.
Acho que cada vez mais os pais "desculpam" o desempenho menos bom dos filhos na escola, com o facto de eles próprios não terem tempo para os acompahar. Bem sei que não somos todos iguais, e nem todos conseguem tirar 5 ou 20 a tudo. Não é disso que falo. Falo do conhecimento de causa que tenho, e repito o que ouvi muitos professores dizerem ao longo dos anos "o ensino até ao 9º ano não está feito para génios". Mesmo o ensino secundário também não. Mas aí já é mais discutível e difícil, a diferença entre um 18 e um 17, por exemplo. No entanto, não compreendo (tirando, claro, os casos de dificuldades cognitivas e outros problemas sociais de causas mais complicadas), os meninos que até ao 9º ano tiram negativas. Não faz sentido.
Noutro dia, a propósito das notas do 2º período, uma senhora minha conhecida dizia para outra, que o filho só tirou 2 negativas. "Só". E a senhora estava muito contente com o sucedido. Não, o filho não tem qualquer problema cognitivo. Tem é um problema de preguiça e de pais pouco exigentes. Quando os pais ficam contentes com o facto do filho "só" tirar 2 negativas, a imagem que passa para a criança é de que não precisa de fazer mais, de se esforçar mais. Que aquele desempenho, que é negativo, basta.
Podem dizer-me que o meu filho ainda não nasceu e não tenho legitimidade para falar. Mas já ando nisto do ensino há uns aninhos, e sei como as coisas funcionam. Quanto menos exigentes os pais forem, menos os miúdos fazem (vamos aqui excluir aqueles paizinhos psicóticos que não admitem menos de 100% em todos os testes, como era o caso da minha rica mãezinha). Quanto maior a atitude relaxada dos pais em relação à escola, mais essa atitude os miúdos vão reproduzir. E depois vão chegar a níveis mais elevados de ensino e as notas não chegam. Pois é...
Por isso defendo que a cultura de exigência deve começar desde cedo. Sem exageros, mas também sem demasiados facilitismos. Caso contrário, estamos a criar futuros adultos que não sabem lidar com uma cultura de exigência. E isso, a meu ver, é péssimo.

1 comentário:

Jovem $0nhador@ disse...

Também sou explicadora e concordo contigo, também me faz confusão de sermos sempre nós, os explicadores, os culpados das más notas, os filhos que não querem saber nem trabalham em casa nunca têm culpa de nada...