quarta-feira, 8 de abril de 2015

A sorte que tenho

Quando falo no meu marido, sobretudo a colegas (porque as minhas amigas já o conhecem bem), todas me dizem que tenho imensa sorte. Eu sei que sim. Por ele ser quem é, é que ele é o meu marido.
Ora, dizia eu que todas me dizem que tenho sorte, quando refiro que ele me acompanha nas consultas, que é dedicado, e que em casa faz tanto ou mais do que eu. Se eu tenho sorte? Sim, é verdade, ele é um grande homem, é o amor da minha vida e somos felizes. Portanto sim, tenho sorte.
Agora, se tenho sorte que ele me acompanhe nas consultas? Se tenho sorte que ele faça coisas em casa? Em pleno século XXI, estas afirmações espelham o Portugal ainda muito machista que temos. Afirmações que são feitas por colegas da minha idade, com e sem namorado/ marido. Na cabeça das mulheres, um homem que tenha um papel similar ao delas, é uma questão de "sorte". Estas mulheres, minhas colegas, que trabalham bem mais do que as 8h diárias, acham que não é obrigação do marido acompanhar as consultas da mulher grávida. Acham que não é obrigação do homem participar na seca que é a lida de casa. Elas acham que um homem que faça isto, é um num milhão. E o problema é que elas têm razão! Portugal, sobretudo o Portugal profundo, ainda é um antro de machismo. Ainda é um local onde as mulheres que entrem sozinhas num café de uma aldeola, são olhadas de lado.
Eu bem vejo as pessoas, invariavelmente, a olharem para a minha mão esquerda, buscando a minha aliança de casada, que por acaso gosto sempre de usar, ao notarem a minha barriga de grávida. São estes micro machismos, como diz a Rititi, que nos condenam, que ainda estão enraizados na sociedade portuguesa. Para todos os efeitos, ainda não é "suposto" que um homem faça o mesmo que uma mulher. É verdade que as coisas estão a mudar, e ainda bem, mas há ainda um longo caminho por percorrer.
O feminismo tem muitas batalhas e eu não concordo com todas. Acho que algumas são infrutíferas. Acho que há batalhas mais importantes que necessitam de ser travadas.
Batalhas como esta, que é, por exemplo, convencer uma mulher de 20 e tal anos, licenciada e se for preciso com um mestrado, que é suposto o namorado fazer coisas em casa. Que é suposto ele ser um participante activo na vida dos filhos, desde a sua concepção.

Mas sim, eu tenho sorte. Não por o meu marido fazer todas estas coisas. Mas sim por ele ser quem é, por nos termos encontrado, e juntos termos encontrado o amor. Isso sim, é sorte.

3 comentários:

Fifi disse...

Concordo plenamente, também não consigo compreender essas mentalidades, sobretudo em jovens, nos dias que correm.

Jovem $0nhador@ disse...

Tens toda a razão. Quando viver com o meu namorado ele tem que ser assim, não por sorte mas por obrigação!

C*inderela disse...

Conheço bem essa conversa. Eu costumo dizer que o meu marido não me faz nenhum favor, ele faz a parte dele, eu faço a minha. Dividimos tudo